Nota da SBFTE sobre tratamento precoce da Covid-19

18 de janeiro de 2021

A Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE) vem mais uma vez posicionar-se em relação ao tratamento precoce da Covid-19 e suas consequências. Reforça-se a necessidade de informações imparciais e baseadas em evidência científica em relação aos benefícios e riscos do uso de medicamentos.

Inúmeros estudos científicos apontam para a inexistência de medicação eficaz na prevenção da Covid-19, à exceção das vacinas recentemente aprovadas para uso humano. Os efeitos profiláticos e curativos em pacientes com Covid-19 de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina, combinados ou não à azitromicina, dentre outros, têm sido exaustivamente investigados com base em critérios científicos em todo o mundo, sem que qualquer evidência sólida de eficácia tenha sido identificada [1-8]. Entretanto, o tratamento precoce com esses fármacos continua sendo fortemente estimulado, o que é visto com enorme preocupação pela SBFTE e várias outras entidades científicas nacionais.

A difusão dessas informações inverídicas torna-se por vezes perversa ao criar a falsa expectativa da existência de um tratamento farmacológico para a Covid-19, reforçando a automedicação e a menor adesão às medidas protetivas, que são: manter o distanciamento social, usar máscaras e higienizar as mãos. Portanto, a mensagem é enganosa, não tem respaldo da ciência e só faz agravar o trágico cenário de mortes evitáveis que vivemos atualmente.

Há hoje recomendações explícitas da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e de várias outras entidades internacionais para que os profissionais de saúde não façam mais uso de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina, dentre outros, em pacientes com Covid-19, exceto em casos de pesquisas clínicas [9]. A falta de qualquer medicamento adequado para o tratamento precoce da Covid-19 foi reconhecida pela própria agência de vigilância sanitária nacional (Anvisa), em 17 de janeiro de 2021, durante a análise pública dos pedidos de autorização para o uso emergencial das vacinas CoronaVac/Butantã e Oxford/AstraZeneca/Fiocruz.

Por último, não se pode mais ignorar os alertas emitidos por infectologistas, epidemiologistas e inúmeras entidades científicas de que a vacinação anti-Covid-19, ampla e irrestrita, é a única solução de que dispomos até o momento para vencer a pandemia. Temos necessidade de um plano urgente do Governo Federal que seja exequível, que tenha clareza, e que priorize a adesão da população à vacinação para que todos possam ser atendidos dentro das melhores práticas internacionais, conforme a tradição do país nesta área. Ao lado da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Associação Brasileira de Saúde Pública (ABRASCO), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e inúmeras outras, defendemos a vacinação para todos já!

Nosso agradecimento aos profissionais de saúde que bravamente trabalham na linha de frente do enfrentamento à pandemia. Nossa solidariedade às centenas de milhares de famílias brasileiras que perderam entes queridos para a Covid-19, bem como a aquelas que buscam diariamente assistência em nossos hospitais e não conseguem ser atendidas.

Diretoria da SBFTE
Marco Aurélio Martins, Presidente
Thiago Mattar Cunha, Vice-Presidente
Flavia Almeida Santos, Diretora Administrativa
Teresa Cristina Tavares Dalla Costa, Diretora Executiva
Richardt Gama Landgraf, Diretor Financeiro

Referências
1. Skipper CP, Pastick KA, Engen NW, Bangdiwala AS, Abassi M, Lofgren SM, et al. Hydroxychloroquine in Nonhospitalized Adults With Early COVID-19 : A
Randomized Trial. Ann Intern Med. 2020;173(8):623-31.

2. Rosenberg ES, Dufort EM, Udo T, Wilberschied LA, Kumar J, Tesoriero J, et al. Association of Treatment With Hydroxychloroquine or Azithromycin With In-
Hospital Mortality in Patients With COVID-19 in New York State. JAMA. 2020;323(24):2493-502.

3. Mitja O, Corbacho-Monne M, Ubals M, Tebe C, Penafiel J, Tobias A, et al. Hydroxychloroquine for Early Treatment of Adults with Mild Covid-19: A Randomized-Controlled Trial. Clin Infect Dis. 2020.

4. Mahevas M, Tran VT, Roumier M, Chabrol A, Paule R, Guillaud C, et al. Clinical efficacy of hydroxychloroquine in patients with covid-19 pneumonia who require
oxygen: observational comparative study using routine care data. BMJ. 2020;369:m1844.

5. Geleris J, Sun Y, Platt J, Zucker J, Baldwin M, Hripcsak G, et al. Observational Study of Hydroxychloroquine in Hospitalized Patients with Covid-19. N Engl J Med. 2020;382(25):2411-18.

6. Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LCP, Veiga VC, Avezum A, et al. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. N Engl J Med. 2020;383(21):2041-52.

7. Borba MGS, Val FFA, Sampaio VS, Alexandre MAA, Melo GC, Brito M, et al. Effect of High vs Low Doses of Chloroquine Diphosphate as Adjunctive Therapy for Patients Hospitalized With Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2) Infection: A Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open. 2020;3(4):e208857.

8. Arshad S, Kilgore P, Chaudhry ZS, Jacobsen G, Wang DD, Huitsing K, et al. Treatment with hydroxychloroquine, azithromycin, and combination in patients hospitalized with COVID-19. Int J Infect Dis. 2020;97:396-403.

9. https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/hcp/therapeutic-options.html